Sobre o mal-estar na juventude brasileira

da dor à política

  • Luciana Gageiro Coutinho Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro - CPRJ, Rio de Janeiro, RJ
Palavras-chave: Juventude, Adolescência, Mal-estar, Educação, Política

Resumo

O artigo parte do questionamento sobre o aumento nos índices de autolesões e suicídios nas adolescências brasileiras nos últimos anos, para interrogar a dimensão sociopolítica do sofrimento juvenil, apresentando ideias oriundas de pesquisas desenvolvidas na interface entre a Psicanálise, a Educação e a Política. Esboça a tese relativa ao declínio da dimensão alteritária na esfera social, que impacta na possibilidade de simbolização e partilha do sofrimento psíquico, com o predomínio do regime da dor. Pensa as experiências dos coletivos juvenis espontâneos, bem como das intervenções clínicas no coletivo como meios para a elaboração desse mal-estar que coincidem com a possível politização da dor.

Biografia do Autor

Luciana Gageiro Coutinho, Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro - CPRJ, Rio de Janeiro, RJ

Psicóloga, Psicanalista. Membro efetivo do Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro (CPRJ). Doutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Pós-Doutorado em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Associada da Universidade Federal Fluminense (Faculdade de Educação/ Programa de Pós-Graduação em Psicologia). Coordenadora do LAPSE/UFF (Grupo de Pesquisas em Psicanálise Educação e Laço Social). Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

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Publicado
09-08-2023
Como Citar
COUTINHO, L. Sobre o mal-estar na juventude brasileira. Cadernos de Psicanálise | CPRJ, v. 45, n. 48, p. 153-170, 9 ago. 2023.