Entre destroços e detritos: pode a regressão apontar para o futuro?
Reflexões sobre a psicologia das massas e a infância como um estado
Resumo
Um certo preconceito que toma partido do progresso em detrimento da regressão, pode ser encontrado em determinada leitura de Psicologia das massas e análise do eu (FREUD, 1921/2020). Entretanto, através das brechas produzidas pelo incêndio da estátua do bandeirante Borba Gato, em julho de 2021, empreende-se aqui um retorno que encontra naquele texto, escrito cem anos antes, o destaque a um fator de revolta contra o Ideal de Eu. Neste espírito, faz-se em seguida a análise de uma crítica de Winnicott ao pai da psicanálise. Defende-se aqui que, ao tomar a infância como um estado, o inglês revigore o vetor regressivo como aquilo que permite fazer, entre destroços e detritos, a invenção de um novo senso de si. Ao fim nos perguntamos: poderemos, às vezes em silêncio, sustentar tanto a queda de nossos ideais quanto um novo futuro que pode devir?
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