Traumatismo da ordem vital e princípio da realidade:
considerações a partir do verso “Apenas a matéria vida era tão fina”
Resumo
O artigo explora a transição do princípio do prazer ao princípio da realidade no contexto da psicanálise, abordando as contribuições de Freud, Ferenczi, Winnicott e Bion. Partindo de Freud e passando pelas contribuições de Ferenczi, chega-se às ideias de Winnicott e Bion para rever a difícil passagem com elevado potencial traumatizante. A integração das teorias de Freud, Ferenczi, Winnicott e Bion sugere que a ordem vital do humano requer a mediação e simbolização como condição para a aceitação não traumática da realidade hostil e adversa. A capacidade de representação e simbolização torna a matéria vida mais espessa e apta a suportar ausências e adversidades sem recorrer a blindagem ou anestesia. Assim sendo, a passagem para o princípio de realidade não precisa ser traumatizante, desde que haja um bom objeto capaz de transformar as experiências emocionais primitivas. O artigo cita várias obras importantes, incluindo trabalhos de Freud (1911, 1915, 1924, 1937), Ferenczi (1913, 1926), Bion (1956, 1957, 1962), e Winnicott (1945, 1951, 1971).
(*) Comunicação no CPRJ no dia 09 de novembro de 2024 em uma mesa-redonda com Neyza Prochet e coordenação de Carla Penna. O Título da mesa era “Apenas, a matéria vida era tão fina”, um verso de Caetano Veloso.
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