1967 Causas de erros e insucessos na psicoterapia analítica de grupo

  • Comissão Editorial
  • Anna Kattrin Kemper Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro - CPRJ, Rio de Janeiro, RJ
Palavras-chave: Psicoterapia de grupo, Homogeneidade produtiva, Estruturas egoicas sadias e interpretações e contratransferências

Resumo

O presente trabalho pretende discriminar e conceituar fatores suscetíveis de ocasionar erros e insucessos na psicoterapia de grupo. Uma das causas principais desses erros e insucessos reside, na presente concepção, numa seleção defeituosa dos elementos constitutivos do grupo, que não leva em conta a importância da homogeneidade produtiva para o processo terapêutico. Esta homogeneidade deve corresponder à estrutura do grupo familiar. Quando falta, pode o grupo terapêutico, por dificuldade de encontrar objetos, projeções e identificações típicas, sofrer estagnações transitórias ou definitivas em sua evolução dinâmica. A homogeneidade produtiva implica, também, uma diversificação das estruturas neuróticas em jogo no grupo, de tal forma que não haja prevalência maciça de certas defesas características, do tipo esquizoide, depressivo ou histérico por exemplo. Garantida a estrutura mista do grupo, torna-se decisivamente importante, para o sucesso terapêutico, que existam partes do Ego dos componentes do grupo que possam fazer aliança com o terapeu-
ta. Esta aliança do terapeuta com estruturas egoicas sadias permitirá, sobretudo, a regressão produtiva, indispensável ao progresso do tratamento, e se mostrará tanto mais necessária quanto mais houver no grupo a participação de psicóticos e “borderline cases”. A participação no grupo de pacientes com formas graves de neurose obsessiva parece ser um fator desfavorável ao êxito tera-
pêutico, o mesmo ocorrendo quando da existência de mais de um paciente homossexual. As discrepâncias gritantes de nível cultural, considerado não apenas em termos de escolaridades, mas em termos de potencialidades em comum e de possibilidades de empatia, podem levar ao insucesso do grupo. Quanto aos aspectos técnicos, capazes de influir decisivamente no êxito ou fracasso terapêutico do grupo, é considerada a interpretação inadequada que é, mais do que qualquer outro fator, responsável pelo insucesso do trabalho psicoterápico. As interpretações devem, predominantemente, referir-se ao grupo como um todo embora possam existir interpretações individuais válidas, na medida em que provoquem reações coletivas. A interpretação rígida e sistemática, como “acting-out”, de qualquer convívio dos participantes do grupo, fora das sessões, bem como a exigência de discrição absoluta (e interpretações decorrentes), constituem um perigo para o sucesso do grupo. Contratransferência, por sua vez, é talvez tão importante quanto as interpretações, para êxito ou falência do trabalho terapêutico. O terapeuta deve estar capacitado a controlar e compreender suas reações contratransferenciais, sendo também decisiva sua possibilidade de acompanhar o grupo com intensa dedicação humana. O problema das lideranças, quando insuficientemente elaborado, pode conduzir ao insucesso do grupo. A presença do observador vivenciado como Superego, seja pelos pacientes, seja pelo terapeuta, chega às vezes a constituir-se como um fator restritivo ao êxito do grupo. As falhas e limites na formação do terapeuta são frequentemente responsáveis pelo insucesso do grupo, uma vez que só raramente chegou aquele a participar como paciente, de um grupo terapêutico. Só através de progressivas experiências, e do conhecimento aprofundado das várias
correntes da grupoterapia, poderia o terapeuta adquirir, criticamente, uma técnica científica válida e, ao mesmo tempo, adequada às suas características pessoais.

Referências

FREUD, S. “Psicanálise profana.

BION, W.R. “Experiences in groups” human relations, vol. 1,3,4. London, 1948.

FAULKES, S.H. Introduction to the group analytic Psychotherapy, Grune and Stratton, New Psychology, 1950.

EZRIEL, H. A psychoanalytic approach to group treatment, British Journal of Medical Psychology, 1950.

RODRIGUÉ, E. Relaciones bi-y multipersonales en psicoterapia de Grupo. I Congresso Latino-Americano de Psicoterapia de Grupo, Buenos Aires, 1957.

LANGER, M. “Un mecanismo de defesa em Grupo pré-formados”, I Congresso Latino-Americano de Psicoterapia de Grupo, Buenos Aires, 1957.

AMARAL, L. Alcântara do – “Ansiedades del psicoterapeuta como elemento del grupo”, I Congresso Latino-Americano de Psicoterapia de Grupo, Buenos Aires, 1957.

KEMPER. A.K. – “Mecanismos e Avaliação da Cura em Psicoterapia de Grupo”, Relatório Oficial do IV Congresso Latino-Americano de Psicoterapia de Grupo. Revista de Psiquiatria Dinâmica, Porto Alegre, 1964.

HARTIMANN, H. – “Ich-psychologie und an passungs problem”, klette Verlag, Stuarttgart, 1960.

LIEBERMANN, H. – “LA comunnicación en Terapia Psicoanalítica”, Endeba Buenos Aires, 1962.

USANDIVARAS, R.S. – “La regression em el Grupo Terapeutico”, I Congresso Latino-Americano de Psicoterapia de Grupo, Buenos Aires, 1957.

KEMPER, A. K. – Reações de caráter arcaico numa sessão de grupo, seus reflexos na análise individual”, Rel. II Jornada Brasileira de Psicoterapia de Grupo, São Paulo, 1963.

STRACHHEY, J. – The nature of the therapeutic actions of psycho-analysis, vol. XV, 1934.

KEMPER, A. K. – “Diferentes formas do silêncio na psicoterapia de grupo”. III Jornada Brasileira de Psicoterapia de Grupo, Rio de Janeiro., 1965.

KEMPER, A. K. – Notas sobre o conceito de interpretação”, III Jornada Brasileira de Psicoterapia de Grupo, Rio de JANEIRO, 1965.

KEMPER, A.K. – “L’interpretacion par allusion”, Revue Française de Psychanalyse, vol. 1965.

BARANGER, W. – El sueño como médio de comunicación”, Relatório Oficial. III Congresso Psicanalítico Latino-Americano, SANTIAGO, Chile, 1960.

FAIRBAIRN, W.R. – Estúdio psicoanalitico de la personalidad, Ed. Hormé, Buenos Aires.

FREUD, S. Psicologia das massas e análise do Ego”.

Publicado
01-08-2025
Como Citar
EDITORIAL, C.; KEMPER, A. 1967 Causas de erros e insucessos na psicoterapia analítica de grupo. Cadernos de Psicanálise | CPRJ, v. 47, n. 53, p. 217-228, 1 ago. 2025.