O que as mudanças climáticas têm a ver com a psicanálise?

  • Jô Gondar
Palavras-chave: Mudanças climáticas, Cisão natureza-cultura, Modernidade, Colonialidade

Resumo

O antropólogo Bruno Latour afirma que a modernidade, período em que a psicanálise surgiu, se caracterizou por um modo dualista de pensar, dividindo o mundo em duas partes opostas: corpo/mente, natureza/cultura, masculino/feminino, centro/periferia, etc. Segundo ele, uma dessas oposições serviu de base para todas as outras: a que separa natureza e cultura. Essa oposição atravessa a teoria e a prática psicanalíticas e vem sendo questionada na era do Antropoceno, quando reconhecemos o quanto a ação humana participa e degrada o ambiente geológico e climático. Podemos continuar, em nossa teoria e em nossa prática, afirmando e transmitindo a separação entre natureza e cultura e os demais dualismos que ela engendrou? São essas as questões que o artigo busca discutir.

Referências

BOLLAS, C. (2012). Segure-os antes que caiam. São Paulo: Editora Nós, 2024.
BUCK-MORSS, S. Hegel, Haiti and Universal History. University of Pittsburgh Press, 2009.
BUTLER, J.; DAVI-MÉNARD, M. et al. Judith Butler et Monique David-Ménard: d’une autre à l’autre. L’Évolution Psychiatrique, v. 80, n. 2, p. 317-330, 2015. DOI: https://doi.org/10.1016/j.evopsy.2015.02.002.
DE LA CADENA, M. Natureza incomum: histórias do antropo-cego. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 69, p. 95-117, 2018.
FERENCZI, S. (1924). Thalassa, ensaio sobre a teoria da genitalidade. In: ______. Obras completas, Psicanálise III. São Paulo: Martins Fontes, 1993. p. 255-325.
______. (1933). Confusão de língua entre os adultos e a criança. In: ______. Obras completas, Psicanálise IV. São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 97-106.
FREUD, S. (1913). Totem e tabu. Rio de Janeiro: Imago, 1977. p. 9-161. (Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 13).
______. (1927). O futuro de uma ilusão. Rio de Janeiro: Imago, 1977. p. 13-71. (ESB, 21).
______. (1930[1929]). O mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1977. p. 75-171. (ESB, 21).
HARAWAY, D. (1991). Um manifesto ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo socialista no final do século XX. In: ______. A reinvenção da natureza. Símios, ciborgues e mulheres. São Paulo: Martins Fontes, 2023. p. 259-318.
KRENAK, A. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
KRUTZEN, H. Ecopsicanálise. Para uma ética melancólica de uma ecologia escura. São Paulo: Zagodoni, 2023.
LACAN, J. (1957-58). O seminário de Jacques Lacan, livro 5: as formações do inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
LATOUR, B. (1991). Jamais fomos modernos. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1994.
______. (2013). Diante de Gaia. Oito conferências sobre a natureza no Antropoceno. São Paulo: Ubu, 2020.
MALDONADO-TORRES, N. Sobre a colonialidade do ser. Contribuições para o desenvolvimento de um conceito. Rio de Janeiro: Via Verita, 2022.
MBEMBE, A. The universal right to breathe. Critical Inquiry, v. 47, suplemento S2, p. S58-S62, 2021.
MIGNOLO, W. Colonialidade: o lado mais escuro da modernidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 32, n. 94, 2017, e329402.
MIGNOLO, W.; WALSH, C. On decoloniality: Concepts, analytics, praxis. Duke University Press, 2018.
MOLLICA, M. et. al. O que os psicanalistas aprendem com os povos indígenas: psicanalistas entrevistam tupinambás, baniwas, payayás, tuxás, guajajaras e puris. Ágora, v. 27, e280633, 2024.
NEGRI, A.; HARDT, M. Império. Rio de Janeiro: Record, 2001.
PASCAL, B. (1670). Pensées. Edição de Michel Le Guern. Paris: Gallimard, 1972.
SAFATLE, V. O circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo e o fim do indivíduo. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.
SCHINAIA, C. (Org.). Against catastrophism: Climate change, pandemics, and hope for the future. London: Routledge, 2025.
WEINTROBE, S. (Org.). Engaging with climate change: Psychoanalysis and interdisciplinary perspectives. London: Routledge, 2012.
______. Psychological roots of the climate crisis: Neoliberal exceptionalism and the culture of uncare. London: Bloomsbury Academic, 2021.
WINNICOTT, D. W. (1951). Objetos transicionais e fenômenos transicionais. In: ______. Da pediatria à psicanálise: obras escolhidas. Rio de Janeiro: Imago, 2000. p. 316-331.
Publicado
30-10-2025
Como Citar
GONDAR, J. O que as mudanças climáticas têm a ver com a psicanálise?. Cadernos de Psicanálise | CPRJ, v. 47, n. 54, p. 21-35, 30 out. 2025.