Traumatismo da ordem vital e princípio da realidade:

considerações a partir do verso “Apenas a matéria vida era tão fina”

  • Luís Claudio Figueiredo Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro - CPRJ, Rio de Janeiro, RJ
Palavras-chave: Princípio de prazer, Princípio de realidade, Trauma, Simbolização, Objeto primário

Resumo

O artigo explora a transição do princípio do prazer ao princípio da realidade no contexto da psicanálise, abordando as contribuições de Freud, Ferenczi, Winnicott e Bion. Partindo de Freud e passando pelas contribuições de Ferenczi, chega-se às ideias de Winnicott e Bion para rever a difícil passagem com elevado potencial traumatizante. A integração das teorias de Freud, Ferenczi, Winnicott e Bion sugere que a ordem vital do humano requer a mediação e simbolização como condição para a aceitação não traumática da realidade hostil e adversa. A capacidade de representação e simbolização torna a matéria vida mais espessa e apta a suportar ausências e adversidades sem recorrer a blindagem ou anestesia. Assim sendo, a passagem para o princípio de realidade não precisa ser traumatizante, desde que haja um bom objeto capaz de transformar as experiências emocionais primitivas. O artigo cita várias obras importantes, incluindo trabalhos de Freud (1911, 1915, 1924, 1937), Ferenczi (1913, 1926), Bion (1956, 1957, 1962), e Winnicott (1945, 1951, 1971).

(*) Comunicação no CPRJ no dia 09 de novembro de 2024 em uma mesa-redonda com Neyza Prochet e coordenação de Carla Penna. O Título da mesa era “Apenas, a matéria vida era tão fina”, um verso de Caetano Veloso.

Biografia do Autor

Luís Claudio Figueiredo, Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro - CPRJ, Rio de Janeiro, RJ

Psicanalista. Membro Efetivo do Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro (CPRJ). Professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). São Paulo, SP, Brasil.

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Publicado
18-07-2025
Como Citar
FIGUEIREDO, L. Traumatismo da ordem vital e princípio da realidade:. Cadernos de Psicanálise | CPRJ, v. 47, n. 52, p. 29-48, 18 jul. 2025.