Clínica, política e compromisso:
Hélio Pellegrino e a subversão do silêncio
Resumo
Este trabalho versa sobre a trajetória de Hélio Pellegrino, destacando sua atuação no combate ao autoritarismo e à ditadura militar no Brasil, bem como sua coragem ao questionar instituições rígidas. Hélio Pellegrino representou a síntese do intelectual comprometido com a transformação social, unindo a psicanálise ao posicionamento público e político em tempos de golpe, silenciamento, censura e tortura de presos políticos. Sua postura combativa estendeu-se não apenas às práticas institucionais da psicanálise tradicional, mas também ao enfrentamento público de questões éticas, como no caso do autodeclarado “psicanalista”, Amílcar Lobo, colaborador da tortura. Nesse caso emblemático, Pellegrino denunciou a contradição entre o compromisso clínico com o cuidado humano e o envolvimento em práticas de tortura. Essa denúncia transcende o contexto brasileiro e revela a permanente tensão entre psicanálise e autoritarismo na Europa e no mundo, destacando-se como um episódio particular dentro de um quadro maior na história das instituições psicanalíticas internacionais. Evoca-se sua intensa atuação em espaços de resistência, como o Simpósio Psicanálise e Política, promovido na PUC-Rio, quando enfrentou os dilemas da neutralidade analítica em tempos sombrios. Além de psicanalista, Hélio foi poeta, jornalista, médico, psiquiatra, defensor de uma clínica viva e aberta ao povo, na contramão do saber enclausurado. Acreditava na psicanálise como prática subversiva e transformadora, aberta ao encontro humano e à história. A primeira clínica social de psicanálise do Brasil nasceu de sua inquietação. Junto a Kattrin Kemper, cuja experiência na Policlínica de Berlim inspirava o compromisso com a democratização dos benefícios da psicanálise, propôs um modelo voltado para as classes populares, rompendo com o elitismo dos consultórios tradicionais. Ali, no Morro dos Cabritos e nas ruas de Copacabana, a psicanálise encontrou outro rosto, próximo das dores do povo. Sua trajetória reconstitui a luta pela ética na psicanálise, transformando o consultório em um espaço de encontro humano que vai além do mero uso de uma técnica psicanalítica; um gesto de presença diante do sofrimento do outro, capaz de abrir caminhos inesperados para a liberdade. O presente trabalho revisita essa figura inquieta e luminosa, reafirmando a atualidade de sua corajosa trajetória, de sua obra no campo das ideias e de sua práxis clínica psicanalítica e política.
Referências
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ROUDINESCO, É.; PLON, M. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
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