1962 A interpretação aludida:

sua relação com as vivências e comunicações pré-verbais

  • Comissão Editorial
  • Anna Kattrin Kemper Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro - CPRJ, Rio de Janeiro, RJ
Palavras-chave: Interpretação aludida, Interpretação tradicional e lógico-discursiva, Ego frágil pré-verbal

Resumo

A autora considera que a interpretação aludida através de frases incompletas, frases de aparência não lógica, palavras isoladas, sons e, se for o caso, de mímica e gestos possui, em certas situações analíticas, maior eficiência terapêutica do que a interpretação tradicional, lógico–discursiva. Ilustrando o seu ponto de vista, enfatiza os seguintes aspectos: 1) A decisiva importância, para a evolução do ser humano, das radiações, percepções e comunicações atmosféricas emocionais, desde o início de sua vida. 2) O significado patogênico das atmosferas traumáticas durante o processo de desenvolvimento da linguagem capazes de limitar e perturbar a comunicação com o mundo ambiental.  3) Em certas fases de determinadas análises, as interpretações diretas e imediatas não atingem com suficiente profundidade as camadas vivenciais arcaicas do paciente, tornando-se desta forma inassimiláveis para o seu ego fraco e pré-verbal. 4) As interpretações aludidas além de estarem mais próximas aos níveis vivenciais arcaicos do paciente, permitem evitar a defesa intelectualizadora. 5) Em certos períodos da análise, as interpretações aludidas mostram–se mais favoráveis aos processos de amplificação e clarificação das vivências atmosféricas difusas do paciente, cuja remobilização é decisiva ao êxito terapêutico. Além disto, tais interpretações dão ao paciente maiores chances de chegar por si mesmo aos “insights” sobre o seu mundo interno patológico. 6) As interpretações aludidas podem desencadear a capacidade de reação motora do paciente de maneira produtiva para a análise. 7) A autora, ao expor as vantagens da interpretação aludida, não pretende subestimar a atividade interpretativa tradicional. Esta pode, inclusive, ser preparada por aquela de modo a tornar-se mais eficiente. 6) The mentioned interpretations can trigger the patient's motor reaction capacity in a productive way for the analysis. 7) The author, when explaining the advantages of the mentioned interpretation, does not intend to underestimate the traditional interpretative activity. The latter can even be prepared by the former in order to become more efficient.

Biografia do Autor

Anna Kattrin Kemper, Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro - CPRJ, Rio de Janeiro, RJ

Anna Kattrin Kemper, também conhecida como Catarina Kemper, foi uma das pioneiras da psicanálise no Brasil. Nascida em 1905 na Alemanha, chegou ao Rio de Janeiro em 1948 com sua família, acompanhando seu marido, Werner Kemper, que tinha a missão de fundar uma sociedade psicanalítica. Em 1955, participou da fundação da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro (SPRJ), mas foi excluída da instituição em 1971 por não comprovar formação oficial como psicóloga ou psicanalista, sendo reconhecida apenas como grafóloga.

Apesar disso, Catarina teve uma atuação marcante na psicanálise brasileira. Trabalhou com crianças e jovens, organizou seminários, grupos terapêuticos e realizou experiências inovadoras em psicoterapia de grupo. Era conhecida por seu estilo não convencional, sensível e afetivo, o que a tornava uma analista muito procurada, especialmente por artistas e intelectuais.

Fundou o Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro em 1969 e, em 1973, criou com Hélio Pellegrino a primeira clínica social de psicanálise do país, voltada ao atendimento de pessoas de baixa renda. Defendia uma abordagem mais calorosa e empática na clínica, especialmente em casos de psicose, autismo e transtornos de personalidade.

Publicou diversos artigos relevantes na área e deixou um legado importante, sendo homenageada com o nome de uma biblioteca e de uma rua no Rio de Janeiro. Sua trajetória é lembrada como a de uma psicanalista ousada, que desafiou normas institucionais e antecipou debates contemporâneos sobre a prática psicanalítica por não médicos.

Referências

BÜHLER Ch. “Kindheit und Jugend/ Leipzig 1928 (Infância e Juventude).

BÜHLER K. “Die geistige Entwicklung des Kindes” / Jena 1930 (O desenvolvimento espiritual da criança).

HETZER H. “Kind und Jungendlicher in der Entwicklung”/ Hannover 1948 (Criança adolescente na evolução).

DÜHRSSEN A. “Psychogene KranKheiten bei Kindern und Jugendlichen” / Göttingen 1954 (Doenças psicógenas de crianças e adolescentes).

SPITZ R. “Nein und Já” - Die Ursprünge der Ursprünge der mensachlichen Kommunikationen - Stuttgart 1957 (“Não e sim” - As origens das comunicações humanas).

BINSWANGER, L. A. “Weisen der sprachlichen Kommunikation und ihre Einschränkungen auf symbolische Ausdrucksweise>> / Psyche H. 1960 (Modalidades da comunicação verbal e suas restrições à expressão simbólica).

MEAD, M. “From the South Seas”.

EISSLER, K. R. “Variationen in der analytischen Technik>> / Psyche 1960 (Variações na técnica analítica).

LOWENSTEIN, R. M. “Bemekungen zu Variationen der psychoanaltytischen Technik” / Psyche 1960 (Anotações sobre variações da técnica psicanalítica).

BIEBRING, E. “Verchiedene Typen der therapeutischen Intervention”/ Psyche 1960 (Tipos diferentes de intervenção terapêutica).

REICH, A. “Eine spezielle variante in der psychoanalytischen Behandlung”/ Psyche 1960 (Uma variação especial no tratamento psicanalítico).

FENICHEL, O. “Allgemeine Neurosenlehre>> /Kap. Zwangsneurose S. 140 / Psa. Verlag Wien 1931 (Ensino Geral da Neurose – Cap. Neurose Obsessiva).

SPITZ, R. “Desenvolvimento emocional do recém-nascido” / Rio 1959 (Die Enstehung der ersten’ Objeckbeziehungen).

SECHEHAYE M.A. “Die simbolische Wunscherfüllung” / Huber- Bern – 1955 / (Realização simbólica de desejos).

FREUD, S. “Bemerkungen über einen fall Von Zwangsneurose” / Int. Psa. Verlag-Ges. Schriften / S. 183/1924 (Anotações sobre um caso de neurose obsessiva).

FREUD, A. “Das Ich und die Abwehrmecahnismen” / Int. Psa. Verlag Wien 1936 (O Ego e seus mecanismos de defesa).

HARTMANN, H. “Ichpsychologie und Anpassungsproblem”/ Imago/ 1939 / Psyche 1960 (Psicologia do Ego e problema da adaptação).

Walder R. “Das Prinzip der mehrfachen Funktionen”/Int. Z. F. Psa. XVI 1930 (O princípio das funções multiplas)

NUNBERG. “Die synthetische Funktion des Ich” / Int. A. F. Psa. XVI-1930 (A função sintética do Ego).

ERIKSON, E. “Kindheit und Gesellschaft”/ Klettverlag/1961 (Infância e Sociedade).

AICHHORN, A. “Verwahrloste Jugend” / Int. Psa. Verlag 1925 (Juventude deliqüente).

REICH, W. “Charakter Analyse” /Selbstverlag 1933 (Análise de caráter). 23)NATCH, S. U. Vidermann S. “Von der Preobjetktwelt in der Übertragungsbeziehung”/Psyche 11/1961 (Do mundo preobjectal na relação trasnferencial).

FREUD, A. “On Adolescence” / Psychoanalytic Study of the child vol. XIII, 1960. (Problemas da puberdade).

BALINT, M. “Examination of Non-Verbal Analytic Interventions”/ Deustsches Iahrbuch f. Psa. 1960/ vol. II.

BALINT, M. “Thrills and regressions”, Havard Press – 1959 (Emoções e regressões).

KLEIN, M. “Envy and Gratitude” edição Espanhola, pág. 124.

BENEDEK, Th. “Dynamics of the Counter-Tranference. Bull. Menninger Clinic – vol. XVII, 1953.

Publicado
01-08-2025
Como Citar
EDITORIAL, C.; KEMPER, A. 1962 A interpretação aludida:. Cadernos de Psicanálise | CPRJ, v. 47, n. 53, p. 239-260, 1 ago. 2025.