1964 Reações contratransferenciais de influência decisiva para comunicação verbal num caso de mutismo de uma criança de 3 a 4 anos
Resumo
O presente trabalho refere-se a um caso de mutismo autístico numa criança de três para quatro anos abandonada durante a Segunda Guerra Mundial. A autora ao iniciar seu trabalho psicoterápico, planejou um tipo de tratamento adequado às extraordinárias dificuldades do caso (reações psicóticas). Para tanto, escolheu como meio de comunicação com a paciente, evitando a interpretação lógico-discursiva, as “interpretações simbólicas”, através da ludoterapia. A autora procurou dramatizar por meio dos objetos de jogo (figuras de Cenoteste e outros recursos) as situações conflitivas da paciente dando-lhes também soluções interpretativas de caráter dramático-simbólico. Ao mesmo tempo, tomando consciência de sua contratransferência materna, resolveu deliberadamente utilizá-la na dedicação à paciente, como estímulo para que esta pudesse estabelecer a primeira relação objetal válida. Por meio de jogos e de outros recursos comunicativos não verbais pôde-se ir tecendo, lentamente, uma relação mãe-filha que capacitou a paciente a sair de seu isolamento autístico. A comunicação verbal instaurou-se no processo terapêutico de maneira dramática. Um dia, Maria foi violentamente agredida por um menino que tinha sessão logo após a dela. Empurrada por ele escada abaixo, rolou alguns degraus e feriu-se na cabeça. A autora assustada pelos gritos de Maria em perigo real, deu plena expressão a seus próprios sentimentos maternos, precipitando-se para a pequena paciente e erguendo-a carinhosamente do chão. Entre lágrimas, sofrimento, perplexidade e riso, a pequenina disse a sua primeira palavra: “Dada”, que em alemão significa a mãe dadivosa. A partir deste acontecimento, no fim do sexto mês de terapia, pôde a paciente, paralelamente à comunicação com pessoas com as quais mantinha ligação íntima, fazer rápidos progressos na aquisição da linguagem verbal e ao fim da terapêutica (dez meses depois), Maria falava normalmente, conseguindo também fazer boas relações com os pais adotivos. A autora considera decisiva a utilização da contratransferência na recuperação do caso relatado, e acha válido este recurso paramétrico quando o ego dos pacientes se mostra extremamente fraco. O confronto catamnésico – o único válido para nossas conclusões teóricas acerca do material clínico – revela-se na última carta dirigida a mim, em que Maria me comunica seu noivado e a formatura em curso superior para secretária trilingue.
Referências
BALINT, M. Examination of non-verbal analytic interventions. Deutsches Jahrbuch F. PSA. 1960.
BIERBRING, B. “Verschiedene Typen der therapeutischen Intervention” (Tipos diferentes de intervenção terapêutica), Psyche, 1960.
BINSWANGER, L. A. “Weisen der sprachlichen Komunikation und ihre Einschrãnkungen auf symbolische Ausdrucksweise” (Modalidades da comunicação verbal e sua restrição à expressão simbólica), Psyche, 1960.
EISSLER, K. R. “Variationen in der analytischen Technik” (Variações na técnica analítica), Psyche, 1960.
FROMM, R. F. La Psicoterapia y el Psychoanalysis, 1960.
______. Princípios de Psicoterapia intensiva. Ediciones Hormé, Buenos Aires, 1960.
KATAN, A. Some Thoughts about the role of Verbalisation. In: The Psychoanalytic Study of the Child, v. l, 1961.
KEMPER, A. K. “A Interpretação Aludida” - Sua relação com vivências e comunicações pré-verbais. IV Congresso Latino-Americano, Rio, 1963. Publicado na Revue Française de Psychanalyse, 7eme année XXIX, 1965, sob o título” L’Interpretation par Allusion”; e em Estudos de Psicanálise, 1970, n. 3.
______. “Quanto à Idealização” - Sua determinação primária, Estudos de Psicanálise, 1971, n. 5.
______. Quanto à modificação da Técnica Psicanalítica, Relatório Principal no I Encontro do Círculo Brasileiro de Psicologia Profunda, novembro de 1971, Belo Horizonte.
LIEBERMANN, D. La comunicación en terapeutica psiconalitica. Budeba, Editorial Universitária de Buenos Aires, 1962.
LOEWENSTEIN, R. M. “Bemerkungen zu Variation der psychoanalytischen Technik” (Anotações sobre variações da técnica psicanalítica), Psyche, 1960.
NACHT, S.; VIDERMANN, S. “Von der Preobjektwelt in der Obertragung. (Do mundo pré-objetal na relação transferencial), Psyche, 1961.
NACHT. S. “La valeur de la rélation non-verbale dans le traitement psychanalytique”, IV Congresso Latino-americano, Rio, 1962.
RACKER, H. “Estudios sobre técnica psicoanalítica” (Contribuição ao tema da contratransferência), Ediciones Paidos, vol. 17, 1960.
REICH, A. “Eine spezielle Variante in der psychoanalytischen Behandlung” (Uma variação especial no tratamento psicanalítico) Psyche, 1960.
RITVO, S. u. Salint, A. “Auswirkunger: a früher Mutter-Kindbezlehungen”. (Conseqüências de relações remotas entre mãe-criança) Psyche, 3, 1962.
SÊCHEHAYE, M. A. “Die symbolische Wunscherfüllung” (Realização Simbólica do desejo), Huber, Berna 1955.
SPITZ, R. “Foloew-Up “Report Anaclitic Depression” (Hospitalismo da criança pequena), The Psychoanalytic Study of the Child, IX. 1954.
______. “Nein und Já – Die Ursprünge der menschlichen Komunikationen” (Não e sim – as origens das comunicações humanas), Stuttgart, 1957.
______. “On the Gênesis of superego components”, The Psychoanalytic Study of the child, XIII/1958.
WINNICOTT, D. W. “First Year of Life” (Primeiro ano de vida), The Medical Press, 1958.
______. “Primäre Mütterlichkeit” (Primary Maternal Preoccupation), Psyche, 1960.
Copyright (c) 2025 Cadernos de Psicanálise | CPRJ

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.