1973 Quanto à agressão:

seus aspectos onto e filogenéticos, suas manifestações no processo psicanalítico

  • Comissão Editorial
  • Anna Kattrin Kemper Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro - CPRJ, Rio de Janeiro, RJ
Palavras-chave: Agressividade, Curiosidade, Destrutividade, Objeto bom e objeto mau

Resumo

A autora e seus colaboradores colocam a agressividade como uma necessidade psicofísica autônoma, que leva o ser à busca do outro, a serviço da sobrevivência. No seu estado de extrema dependência, a criança se contacta com o primeiro objeto, com a pele e com a boca, através de movimentos e fantasias, podendo, desde as primeiras experiências, vivenciar a agressividade no sentido de um “ad-gredi” curioso e carinhoso com o qual intenta a grande aventura do viver, como, também, se dar conta de sua possibilidade destrutiva. Em perspectiva de Humanidade, a conquista da Lua e a destruição atômica são exemplos desses dois aspectos do fenômeno agressividade. São referidos alguns dados sobre comportamento agressivo nas sociedades humanas primitivas, em algumas espécies animais e em alguns grupos indígenas. Finalmente, são citados três exemplos de manifestações agressivas em relação a processos psicanalíticos. Na primeira situação, a agressividade explodiu antes do tratamento que se iniciou em plena fase de autodestruição. O encontro do objeto bom possibilitou a salvação. No segundo episódio, a agressividade se manifestou durante o processo psicanalítico, em relação à mãe, vivenciada como objeto mau. Essa mudança da paciente trouxe, como decorrência, alteração para melhor no comportamento da mãe e uma convivência em outros termos. Na terceira situação a agressividade se manifestou durante a análise, contra a terapeuta e foi trabalhada produtivamente no nível transferencial.

Biografia do Autor

Anna Kattrin Kemper, Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro - CPRJ, Rio de Janeiro, RJ

Anna Kattrin Kemper, também conhecida como Catarina Kemper, foi uma das pioneiras da psicanálise no Brasil. Nascida em 1905 na Alemanha, chegou ao Rio de Janeiro em 1948 com sua família, acompanhando seu marido, Werner Kemper, que tinha a missão de fundar uma sociedade psicanalítica. Em 1955, participou da fundação da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro (SPRJ), mas foi excluída da instituição em 1971 por não comprovar formação oficial como psicóloga ou psicanalista, sendo reconhecida apenas como grafóloga.

Apesar disso, Catarina teve uma atuação marcante na psicanálise brasileira. Trabalhou com crianças e jovens, organizou seminários, grupos terapêuticos e realizou experiências inovadoras em psicoterapia de grupo. Era conhecida por seu estilo não convencional, sensível e afetivo, o que a tornava uma analista muito procurada, especialmente por artistas e intelectuais.

Fundou o Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro em 1969 e, em 1973, criou com Hélio Pellegrino a primeira clínica social de psicanálise do país, voltada ao atendimento de pessoas de baixa renda. Defendia uma abordagem mais calorosa e empática na clínica, especialmente em casos de psicose, autismo e transtornos de personalidade.

Publicou diversos artigos relevantes na área e deixou um legado importante, sendo homenageada com o nome de uma biblioteca e de uma rua no Rio de Janeiro. Sua trajetória é lembrada como a de uma psicanalista ousada, que desafiou normas institucionais e antecipou debates contemporâneos sobre a prática psicanalítica por não médicos.

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Publicado
01-08-2025
Como Citar
EDITORIAL, C.; KEMPER, A. 1973 Quanto à agressão:. Cadernos de Psicanálise | CPRJ, v. 47, n. 53, p. 313-325, 1 ago. 2025.